Por detrás das cortinas
- Joao Faria
- 4 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

Falemos de um dos espectáculos mais actuais dos dias de hoje. Está presente nas nossas rotinas, desde o acordar até ao deitar, mora no nosso bolso, na nossa mesa-de-cabeceira, e infelizmente recorremos a ele demasiadas vezes, quando estamos numa sala de espera, quando estamos no trabalho, na escola, às refeições, até a passar uma passadeira, e num encontro de amigos. Devem estar a questionar-se… sim é o espectáculo das redes sociais.
As redes sociais hoje em dia assumiram diversos formatos, que sem dúvida nos trazem bastante utilidade, como a divulgação de notícias, de cargos de trabalho, de currículos, também facilita o reencontro de velhos amigos de escola, e a comunicação com amigos e família.
Com o crescente aparecimento de redes sociais, surgiram também diversas valências novas, que aparecem como o último grito da moda, que toda a gente quer experimentar e usar. Quem se lembra do My Space e do Hi5? Eram redes sociais que nos permitiam apenas partilhar fotografias, fazer comentários, ter um top de amigos no caso do Hi5 e partilhar ideias no mural. Estas personagens antigas foram substituídas pelo ainda hoje conhecido Facebook, que se foi sempre nutrindo de actualizações que não o deixam ficar atrás das outras redes sociais, como as mais recentes e populares, Instagram e Tiktok. De redes sociais onde podíamos apenas publicar pensamentos, ou fotografias, passámos a ter histórias que nos permitem saber o que os nossos amigos estiveram a fazer no fim-de-semana, passámos também a poder aderir a filtros “criados por figuras públicas” que nos fazem sentir mais próximos do nosso ídolo, como por exemplo o tão famoso filtro da Kylie Jenner, ou até a aderir à última “dancinha” ou desafios colocados no Tiktok e que foram um enorme entretenimento na pandemia.
Toda esta explosão das redes sociais, é um verdadeiro espectáculo de novas experiências, e emoções. Agora questiono-vos, o que acham que está por trás de tanta exposição, e tanta nova funcionalidade que nos permite quase viver a vida dos outros? Será que é realmente tudo tão cor-de-rosa?
Por trás das cortinas, mesmo desde os primórdios das redes sociais, com o Hi5 e o seu top de amigos, começou a comparação social, quem é mais amigo de quem, com o Facebook a partilha de fotografias e vídeos aumentou, e por consequência a exposição da imagem, o que permitiu comparações como “o que o outro tem e eu não tenho”, “será que a minha vida é assim tão má, com tanta vida perfeita que decorre sobre os nossos feeds?”. Passámos a expor tudo, onde trabalhamos, onde moramos, onde estamos com a partilha de localizações, quem é a nossa família e amigos, logo passámos a ser alvos mais fáceis.
Com esta crescente exposição passou a surgir cada vez mais episódios de cyberbullying, como o flaming, onde há trocas de ofensas em comentários, ou grupos de Whatsaap; como o happy slapping, onde há a gravação de episódios de bullying que posteriormente são expostos nas redes sociais; como a perseguição através das redes sociais com mensagens de intimidação, assédio ou violência. Passou também a haver palco para episódios de roubo de identidade, violação de intimidade e difamação.
Outro fenómeno muito conhecido mas que muitos não o identificam, é o FOMO, que significa “Fear of Missing Out”, ou seja, medo de ficar de fora. Está directamente associado à necessidade de estar sempre online, ligado ao que se está a passar no mundo, ao que os amigos estão a fazer durante o dia. Muitas das vezes damos por nós numa reunião demorada, ansiosos por correr para o telemóvel (smartphone), ver as notificações que temos, quem nos mandou mensagem, o que existem de notícias no mundo, que fotos foram publicadas nas redes sociais, naquela uma hora que estivemos fechados numa sala. Muitos não resistem e dão uma espreitadela, porque a ansiedade é maior. As redes sociais potenciam esta mesma ansiedade pela exposição, pelo entretenimento, pela imersividade que se torna cada vez maior com o crescente de número de funcionalidades.
É importante desacelerar, desvincular das redes sociais, do frenético scroll, do olhar atento ao que os outros estão a fazer, as redes sociais são um mundo de espectáculo que nos levou a não viver o que é nosso, mas sim olhar para o lado constantemente e tentar replicar com base no que é dito “trend”, e que antigamente chamávamos de “moda”. É importante voltar a viver as relações que temos de forma sadia, e voltarmos a estar connosco próprios em paz, sem sermos uma extensão constantemente ligada ao que está a acontecer online.
O próximo texto que vos escreverei será certamente para pensarmos juntos sobre estratégias, e o que podemos fazer para voltarmos a ter uma relação saudável com as redes sociais.
Até breve!
Maria Silva
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