Proibir o telemóvel nas escolas: Será que conseguimos tapar o sol com uma peneira?
- Ivo Pinto
- 18 de jun. de 2024
- 3 min de leitura

Proibir o telemóvel nas escolas? Este é um tema que irá arrefecer nas férias de verão que se aproximam. Vai ficar guardado, seguramente, na arca dos gelados. O tema até pode arrefecer, mas posso assegurar com 100% de certezas que, tal como o clima, a utilização dos smartphones entre crianças e adolescentes vai aquecer… e vai aquecer muito. Será mais uma época de incêndios, daqueles que não passam nos telejornais e que, por muito fumo que façam, parecem não ser vistos por ninguém. Pode dizer-se que é “fogo que arde sem se ver”?
Nem mais, a vida das crianças e jovens não se encerra nos portões das escolas. Tão ou mais importante do que refletir acerca da proibição dos smartphones nas escolas, importa refletir e desenvolver políticas que ajudem as famílias e jovens a regular a utilização dos dispositivos eletrónicos em todos os contextos de vida. E sim, a escola poderá ter um papel central nessa educação. Proibir o telemóvel nas escolas é uma medida que, tomada de forma avulsa e desconexa de uma política de educação, que envolva alunos, pais e professores, pouco ou nada serve a essa missão. Proibir por proibir, sem que ninguém consiga compreender o propósito de uma decisão destas, pode até ser contraproducente para o objetivo educativo.
Mas sim, a escola também pode contribuir para a proteção das crianças e jovens ao colocar restrições à utilização de smartphones. Ter períodos regulares de “apagão” tecnológico no recinto escolar pode ser importante para a criação de contextos que permitam às crianças ter experiências que são essenciais para o seu desenvolvimento, nas mais diversas áreas do desenvolvimento (sensorial, social, motor, e por aí fora). Isto é tanto mais verdade, quanto mais nova for a criança, mas não deixa de ter a sua importância também para os adolescentes. A maior parte das atividades realizadas nos telemóveis (ex. videojogos e redes sociais) tem atualmente mecânicas que criam um grau de estimulação e imediatismo que dificilmente encontram paralelo fora do ecrã.
O problema não é o smartphone (pois este até tem potencialidades que podem ser aproveitadas, por exemplo para potenciar a comunicação e a aprendizagem). O problema é a contribuição que smartphone poderá ter na diminuição/privação de atividades e hábitos saudáveis necessários para o desenvolvimento das crianças e jovens (dentro e Fora da escola). Portanto, a existência de uma educação com limites, que ajude as crianças e jovens a desenvolverem os seus próprios limites (à medida que as capacidades de autorregulação se desenvolvem) e que potencie atividades e hábitos saudáveis deverá ser o foco da atenção de pais, professores e políticos nos próximos anos, no que a esta matéria diz respeito.
Isto deve ser sempre feito ouvindo e envolvendo todos os agentes do sistema de educação (alunos, pais, professores). Será que os jovens têm sido ouvidos no que toca a esta questão? Recentemente, eu e o meu colega e amigo Mário Veloso (Psicólogo Clínico), fizemos um ciclo de palestras para centenas de estudantes do 3º ciclo e Ensino Secundário de um concelho no norte do país, sobre a utilização saudável dos smartphones. No final das palestras realizámos um questionário eletrónico onde lançávamos a questão “Eu defendo… a) proibição completa de smartphone na escola; b) proibição parcial; c) ausência de qualquer restrição”. Os resultados foram muito interessantes e teremos todo o gosto de os partilhar convosco no nosso próximo texto sobre esta temática.
Cuidado com os escaldões na pele… e não só!
Ivo Pinto
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